sábado, 31 de dezembro de 2016

por aí (escrito em algum momento de 2015 pós-martin)

com ajuda do clima, pedido da nutricionista e insistência do marido começaram as nossas caminhadas, minhas e de martin. quanto mais me recupero da gravidez e do trabalho de parto conseguimos distâncias maiores e chegamos um pouquinho mais longe de casa.

essas andanças, mais intensas em caminhos regulares, e mais leves em lugares acidentados e onde se tem mais coisas para ver, fazem meus pensamentos terem uma horinha de recreio. posso ficar sem foco, e sem peso na consciência por isso. tem horas que lembro da postura, contraio o abdômen e aperto o passo, outras que me pego mais lenta olhando uma árvore mais esquisita ou bisbilhotando a janela do apartamento de alguém (fechem as cortinas!!!).

as vezes decido passar por uma rua comercial. perto de casa essas ruas são ocupadas por uma maioria de restaurantes, então não há muito para se ver. mas hoje entrei na fundação athos bulcão, onde eu sempre passava de carro, rápido, olhando, sem chance de parar. muito legal ver suas obras e ver uma lojinha sortida de objetos tentadores com sua 'marca'. fiquei triste por ser um lugar tão difícil para um cadeirante chegar... o comércio da 404 é impossível ser percorrido continuamente: muitos desníveis, e mesmo os rampados tem inclinações muito acentuadas.

mas a cada passeio fico impressionada como brasília é linda. uma delícia ter tanto verde em volta. martin é rapidamente hipnotizado pelas árvores e adormece nos primeiros 5 minutos. nem as trepidações do carrinho o acordam. pilotar um carrinho de bebê é bem desafiador por aqui. a natureza invade as calçadas, raízes levantam as placas de concreto, mas se fosse só isso tava bonito. temos muitas calçadas quebradas e trechos sem elas, e infelizmente o caminho mais acessível acaba sendo as ciclovias da cidade, recém executadas. diferente de alguns pedestres distraídos, tento ir no cantinho, sempre atenta ao trânsito das bicicletas, mas constatei que o caminho mais acessível para elas acaba sendo a faixa de rolamento dos carros.

fico feliz em poder morar nesse imenso jardim, me sinto segura aqui também. a herança de 5 anos de fortaleza foi a paranóia com a segurança, tenho olhos atrás da cabeça, e isso me faz reparar que temos cada dia mais moradores de rua e pessoas a vagar pela cidade. antes eram nossos conhecidos, como a senhora magra, elegante, de cabelos brancos que vaga por aí com muitos livros na mão, o cara, hoje senhor, negro com um pano na cabeça que anda mais lá pra cima nas 300, o cara grandão de casaco camuflado que pede dinheiro no sinal da L2, que nos dias de calor estava irreconhecível de bermuda e regata. mas são tantos que não dá mais para identificar todos.
temos também os grupos! os meninos do cesas que fumam maconha debaixo do meu prédio, as crianças do bloco C, as velhinhas do pão de açúcar, e os sequestradores relâmpago que vagam atrás de uma vítima. mas me fio na certeza que ninguém vai pegar meu bebê e sair correndo, pois é a única coisa de valor que carrego nas caminhadas. então vou tranquila.

"bom dia" é um artigo raro! não que eu saia dando uma de 'titio avô' (piadinha para iniciados), mas quando você faz contato visual é de bom tom soltar um cumprimento, mas raras são as pessoas que respondem. e de manhã cedo tem muita gente na rua: indo a pé ou de bicicleta para o trabalho, para escola, velhinhos e crianças tomando sua dose de sol, mas muito pouca gente disposta a olhar para o meu rosto e dar bom dia!

nunca gostei de caminhadas, esse negócio de andar para lugar nenhum e voltar como um bumerangue para casa, só para se exercitar é muito chato. mas passando tanto tempo em casa, a caminhada com a máscara de levar o bebê para passear está sendo quase a melhor hora do dia, só perdendo para o momento que consigo tomar banho!


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