segunda-feira, 18 de abril de 2016

38 semanas e o nascimento de martin (senta que lá vem a história)

e eu dizendo que desde as 32 estava alerta, mas no fundo achando que ia até o final.
dizia que estava preparada, mas não estava.
queria parto normal, mas tava morrendo de medo.
e assim foi até o fim, começo.

na quarta-feira tivemos pré-natal. estava sentido um leve incomodo mais "embaixo", mas ao examinar o bb ainda estava "alto", dilatação 0, deveria chegar lá para o final do mês, liberadíssimos para ir ao casamento na sexta-feira.

mas apesar de tudo estava bem, me sentindo super bem, acho que melhor que todo o resto da gravidez.

na quinta-feira pedi um abono para o dia seguinte para 'acabar' (ãrrã) de resolver os preparativos para o nascimento do bebê. na massagem pedi para tiana caprichar na perna porque afinal de contas já estava nascendo e não havia necessidade de tanta cautela. em seguida, nos encontramos com a noiva. eu disse estar sentindo umas pontadas, mas estaria no casamento, "nem que seja para fazer minha última refeição". a mãe da noiva constatou que no dia seguinte teria mudança de lua, mas eu só tinha checado as mudanças mais para o final do mês. fui dormir com um leve cólica.

na sexta-feira acordei as 5 e pouco com uma cólica intestinal, as 6 e pouco constatei que a cólica ia e vinha. comecei a contar os intervalos que variavam de 10 a 16 minutos. irregular, pensei eu. alguma coisa acontecendo, mas sem botar fé... liguei para médica, que pediu que eu fosse ao consultório. tomei café e banho caprichado, calmamente, acho que por volta das 10 e pouco.

na consulta ela me examinou e constatou dilatação 2 cm e colo 'esvaecido', seja lá o que isso significava, a ficha foi caindo. parei de falar quando tive outra cólica e a barriga endureceu, "contração mesmo, ainda mais quando para de falar na hora", disse ela rindo! "de hoje não passa."
como eu estava aguentando bem, pedi para resolver coisas na rua, arrumar mala e coisas assim. tinha um pouco de medo de ficar horas e horas em trabalho de parto num quarto de hospital. ela liberou, mas com um ar desconfiado. isso já era umas 11h e pouco da manhã.

fui pra rua comprar a fantasia do tito para a desfile da colônia de férias. as contrações pioraram e decidi ir para casa almoçar, arrumar a minha mala (a do bb tava pronta) e relaxar, ver um pouco de tv, etc.

em casa fiz quase tudo isso... a casa encheu, titio, titia, sobrinhos. mandei tito para colônia de férias sem muito alarde e comecei a arrumar a mala... e as contrações aumentando. voltei a calcular o intervalo e de repente ficaram tão pouco espaçadas que não conseguia mais contar. mala pronta, sem vontade de almoçar e todo mundo dentro do meu quarto querendo dar um força. crianças entravam e saiam meio assustadas, minha cunhada fazia silêncio a cada dor, minha mãe brincava com a pequena para distrai-la, meu irmão falava sobre assuntos diversos para tentar mudar meu foco, meu pai ia e vinha querendo saber da evolução do processo, e a faxineira olhava para mim e dizia: tá doendo né!
nesse cenário percebi que: 1. eu não conseguiria almoçar - 2. eu não conseguia mais conversar - 3. achar que ia relaxar e ver tv era uma inocência - 4. a médica tinha ligado para saber de mim mais de uma vez, então ficou claro que devia correr para o hospital.
fomos correndo por volta das 15h, e entre uma contração e outra eu ligava para a médica, mandava recados para família e amigos pelo zap zap avisando que o trabalho de parto havia começado.

no hospital tivemos a brilhante ideia do zeca me deixar na porta e estacionar. desci sozinha e olhei para a ponto que devia chegar, parecia a maior distância que teria que vencer na vida. achei que ia deitar no chão durante a contração, mas cheguei. a atendente perguntou se eu estava em trabalho de parto, e teve a resposta assim que olhei para ela. disse que eu devia ter dado entrada no ambulatório "bla bla bla whiscas sache" e só disquei para dra. e passei o celular para ela. imediatamente ela conseguiu um quarto e uma cadeira de rodas. em algum momento durante a papelada zeca chegou e acabou de resolver. lá fomos nós passear de cadeira de rodas com contração, fechei o olho, tentei respirar e não quebrar a cadeira de rodas, e digo que foi outro caminho longo.

no quarto achei que deveria tirar meu macacão e colocar um vestido, pensando na rotina de ser examinada mais de uma vez, mas o intervalo entre uma contração e outra foi tão pequeno que a troca foi praticamente uma missão impossível. tenho que registrar que no intervalo é como se nada tivesse acontecendo, a dor desaparece sem deixar vestígios, muito louco. no primeiro 'toque' (dilatação 4), que foi junto com uma contração, me fez chorar de dor, já pedi uma analgesia e a minha adorada médica foi uma fofa explicando o que era analgesia e me perguntando se eu realmente a queria! então em menos de 5 minutos tive que trocar de roupa de novo. coloquei a bela camisola do hospital e me mandaram para o centro cirúrgico... sim, o parto normal é feito no centro cirúrgico também. digo isso porque quando zeca avisou que íamos para lá, alguns acharam que tinha evoluído para uma cesárea.

na minha cabeça eu me concentrava em: inspirar como se fosse mergulhar na piscina e expirar como se fosse apagar uma vela (li isso em algum lugar), não gritar para não gastar energia (alguém me deu essa dica, acho que foi a fernanda guimarães), fechava os olhos e segurava firme onde quer que eu estivesse. eu empurrava e puxava com tanta força as alças da cama, que fiquei com medo de quebrá-la e ter que ressarcir o hospital depois. a dor chegou a um nível tão absurdo que quase perdi o controle, mas impressionante foi que quando zeca, ou alguém segurava meu braço ou minha perna dava um conforto enorme e conseguia voltar ao controle da situação.
nesse meio tempo a galera lá de casa estava dividida entre: colônia de férias, salão de beleza, outros em casa esperando notícias, outros no avião vindo para o casamento de logo mais a noite. insisti para que todos fossem ao casamento e continuassem a arrumação para isso, porque como eu queria um parto normal, imaginei que fosse ficar em trabalho de parto no quarto do hospital, e não achava uma boa ideia uma galera olhando para minha pessoa semi-nua morrendo de dor. mas o fato é que nem no quarto ficamos. para amenizar a distância, zeca ficava mandando mensagens em tempo real para minha mãe, mas no fim do dia, descobrimos que inacreditavelmente o celular dela não estava recebendo mensagens a tarde inteira. humpf...
no centro cirúrgico só pensava em quantas contrações ainda teria até o anestesista agir. não conseguia me mexer. estava toda 'embolada' na cama agarrada na alça e foi muito difícil me sentar. o anestesista demorou para conseguir 'acertar' e eu obedecendo todos os comandos de me curvar e não me mexer. quando finalmente ele terminou, disse que eu podia me deitar novamente, mas ainda não conseguia me mexer de tanta dor... que foi passando calmamente até eu conseguir deitar bem relaxada e pensar seriamente em tirar uma soneca. a dor SUMIU!!! isso é provavelmente um dos maiores avanços da ciência, uma medicação banir completamente a dor insana de uma pessoa.
nota 1: naquela hora largava fácil o zeca para casar com o gordinho da anestesia.
nota 2: meu pretendente alertou que o 'acesso' ficaria ali caso evoluísse para uma cesárea, era só aumentar a dose.
nota 3: até esse momento eu tinha certeza que ia rolar algum 'xabú' e a cesárea seria feita. e depois de toda aquela dor, até desejei que isso acontecesse logo, mas não ousei externar essa ideia e nem reclamar da dor em voz alta, só em pensamento, para não dar o braço a torcer.

sem dor  (dilatação 6) pedi para dar uma cochilada. "ok, você tem 15 minutos para descansar e depois vamos 'treinar' a força". achei 15 pouco, mas o suficiente para dormir profundamente, delícia. o quarto tava escurinho para o bebê, tava quentinho para o bebê, tava silencioso para o bebê, só eu, zeca e a médica (quando ela saia uma enfermeira ficava no lugar) e o bercinho esperando 'o bochecha' (que era como eu estava o chamando por causa das ecografias que mostravam muita bochecha... e porque ele não tinha nome ainda). para melhorar minha médica trouxe um sonzinho e colocou uma musiquinha. pausa para elogiar todo hospital e equipe: não fiz plano de parto, não exigi nenhuma dessas condições, apesar de ter lido tudo sobre um parto "humanizado ideal", só conversei muito com minha médica sobre querer um parto normal e tirar dúvida sobre tudo que eu lia por aí (episio, humanização, natural, em casa, cordão pulsando, bebê direto no meu colo, analgesia, trabalho de parto) e ela sempre me esclarecia como trabalhava, e sempre me identifiquei com a maneira que colocava as situações e possíveis decisões.

naquele outro momento conseguia olhar em volta, ver onde estava, observar que não tinha cara de 'centro cirúrgico', tinha um quadro com possíveis posições para parir, tinha uma bola e uma cadeira. após me 'ensinar' como poderia fazer a força na cama, me disse que podia fazer como eu quisesse e escolhi ficar ali, estava bem confortável. então veio o pânico por desconfiar que ela estava realmente considerando o parto normal. li tanta coisa por aí, que mesmo confiando nela, achei que ia me 'passar a perna' e fazer uma cesárea. perguntei se o bebê ia nascer com um cucurutu na cabeça, ela disse que não porque não estava encaixado, que a gente precisava estourar a bolsa para ele descer. e assim foi feito: força aprendida, bolsa estourada  (dilatação 8), ela sugeriu um pouco de ocitocina para que eu voltasse a sentir a contrações que só eram percebidas agora quando a barriga ficava dura, e era importante eu sentir para fazer força na hora certa. "ok, mas vou sentir aquela dor de novo?" - não. mas senti outra dor... a dor de cólica menstrual elevada a milésima potencia deu lugar a uma dor na lombar (li sobre tudo e tava sentindo falta dela mesmo). achei que era da posição, mas rapidamente identifiquei o sintoma, e junto com a força que estava fazendo entrei na fase de expulsão.

detalhes sórdidos (se não quer saber, pule essa parte) comecei a fazer força com a médica ajudando o bebê a descer com a mão na minha barriga. e foi quando ela pediu licença para atender um telefonema e eu ouvi: "estou com dilatação 9 aqui, mamãe jajá estará em casa, filha", caiu a ficha que definitivamente seria um parto pelas vias normais!
a força era igual a tentar fazer um cocô mega master que precisa sair e não sai, e quando estava tímida com esse pensamento ela sugeriu "imagine que você está num deserto, onde a pessoa mais próxima está a milhares km de distância e você precisa fazer um cocozão!" comando muito acertado porque é muito fácil fazer a força errada, e estava fazendo força na garganta, seja lá como isso for.
mas eu já estava desanimando, achando que não estava adiantando nada, quando ela avistou a cabeça, daí eu me animei, arranquei toda roupa... eu não suo normalmente, mas lembro de voar gotas de suor do meu rosto. eu não gritava, só respirava, mas depois vendo os videos minha respiração eram urros... e eu achei que estava simplesmente respirando e fazendo força...

...e numa ultima força ele nasceu: um bebê minhom desbochechado: "você quer pegar ele? pele a pele?" não sei se respondi que sim ou se estiquei os braços e recebi meu presente lambrecado que só deu 3 gritos de choro até que me viu. ficou me encarando, analisando meu rosto numa atenção surreal por mais de 10 minutos. a pediatra veio até a mim dizer que não ia tirá-lo do meu colo porque era mais importante ele estar ali do que ser medido e pesado (mais palmas para a equipe). a médica mandou eu continuar respirando porque ele ainda estava ligada a placenta. assim eu fiz... e fui me acalmando... zeca se assustou quando pediram para que ele cortasse o cordão... fomos convidados a conhecer a bolsa com a placenta dentro e ganhamos uma aula sobre as minhas entranhas. e quando vi estava ganhando uns pontos com uma anestesia local que não fez efeito. senti cada ponto... mas depois daquela dor toda, aquilo ali era fichinha. não, não foi feita a episio, mas precisei de alguns pontos, não sei quantos. quando a médica terminou, finalmente levaram o bebê para ser medido, pesado e ganhar uma injeção de vitamina k, e a enfermeira me limpou com panos úmidos. conto isso, porque sempre me perguntei sobre esses detalhes que ninguém conta.

na sala de recuperação já recebi meu pacotinho de volta, ele foi ali zás-trás com o pai e voltou. tive que ficar 1 hora em observação por causa da analgesia, mas o miúdo já achou o peito. depois dessa hora zeca foi atrás do tito que foi ganhar a honra de ser o primeiro a ver o irmão. com todos no casamento, ele já iria dormir na casa da tia, os planos foram mantidos, mas ela antes levou ele lá para dar uma espiada no pequeno. fiquei um tempão sozinha entre zeca subir e nós (owmmm) subirmos, pois eu fiquei esperando uma enfermeira do berçário descer para me escoltar até o quarto. mas ainda no corredor já avistei o titão, meu prematurinho tão grande, que veio correndo ver o bebê que estava embaixo do lençol do meu lado.

no quarto (que agora eu conseguia enxergar, sem dor e com a minha recompensa do lado) tito já sentou para receber o irmãozinho. segurou, fez carinho, pediu para dormir ali "porque não queria sair de perto do irmão nunca mais", mas sozinho reavaliou e quis ir com a tia e voltar no dia seguinte. e foram, e eu fiquei um tempão sozinha com o bebê novamente porque zeca saiu para comer e buscar umas coisas que esquecemos em casa. foi bom e foi ruim, foi surreal estar acompanhada por alguém que eu nunca tinha visto, meu alguém, e não poder compartilhar aquele momento com ninguém... mas lá pras tantas zeca voltou.

e mais surpresas: a enfermeira 'mandou' eu tomar um banho: - posso? "claro, vida normal". - normal igual ao parto normal, que de normal não tem nada? "kkkkkkkk"
"você autoriza dar banho no bebê?"- NÃO! (li em algum lugar que não é legal dar banho no bebê logo porque ele tem aquela gosminha que nutre a pele dele)
"você quer trocar a roupinha dele?": - não precisa, ele parece tão confortável. "mas é melhor, porque como ele nasceu com baixo peso, precisaremos fazer teste de glicemia a cada 2 horas." e a decisão foi acertada porque a roupinha que colocaram ao nascer parece uma camisa de força em forma de saco, e toda vez teriam que deixá-lo pelado para fazer o exame.
e assim se encerrou o dia do parto! e começou a primeira noite com o bebê que dormiu lindamente, já eu quicava na cama... é muita adrenalina, é muito insano, é muito surreal, é MUITO! muito tudo... intenso!

2 comentários:

Juliana disse...

Parabéns Dani e Zeca. Admiro vocês. Beijos nos seus.

Eduardo (Doca) Perdigão M. Lima disse...

Não tinha lido! Que lindo! Que intenso. Que medo! Rs